Pra não dizer que não falei de girassóis

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  • Última modificação do post:15 de fevereiro de 2021

Esta “abobrinha” foi escrita em abril de 2018 e ficou esperando a hora certa para ficar madura e poder ser “degustada”. Finalmente, chegou quase 3 anos depois! 

…Todas as outras coisas, nossa força, nossos desejos, nossa comida, são de fato necessárias para a existência. Mas essa rosa é algo além. O cheiro e a cor dela não são necessários para a vida, mas lhe dão beleza. É preciso bondade para dar algo mais, por isso repito que as flores são um bom presságio.

A frase não é minha. Foi colocada na boca do detetive mais famoso do mundo – Sherlock Holmes, criado por Conan Doyle.

Cartola, parece que sem saber, concordou com Holmes – “as rosas não falam, simples exalam o perfume que roubam de ti” – mas, é preciso bondade para dar algo mais como disse Holmes.

Você já pensou nisto? Vou repetir com letras maiúsculas – É PRECISO BONDADE PARA DAR ALGO MAIS.

As flores sempre estiveram presentes em nossas vidas. Elas não falam, como as rosas de Cartola, mas traduzem em perfume o imponderável da vida. Estão presentes do nascimento à morte. De alguma forma são um bom presságio.

Celebram a chegada, os momentos felizes e as partidas. Momentâneas ou “eternas”.

Cada uma com sua beleza e seu cheiro são admiradas de formas diferentes pelo ser humano e porque não, pelos animais também.

Seria possível desvendar a parte de nosso eu interior, que ferrenhamente tentarmos esconder dos outros, colocando no divã do psicanalista a flor que elegemos como a nossa preferida?

Eu, por exemplo, sempre preferi as rosas de Cartola, que não falam, mas certamente me ouvem, assim como as estrelas de Bilac.

Mas, e os girassóis?

Comecei parafraseando Geraldo Vandré em sua canção memorável. Então, vamos lá, para não dizes que não falei dos girassóis.

Nunca tinha lhes dado muita atenção, confesso.

Nem mesmo parava para admirar com cuidado os famosos girassóis de Van Gogh, embora tenha adotado, há uns dez anos, a pintura como “tarja preta” para resolver os desconfortos que a vida, às vezes, nos impõe.

Dia destes me surpreendi.

Ao entrar no Atelier Isabella Oliveira que, como disse, frequentava há uns dez anos, me deparei com a pintura feita por uma senhorinha de 88 anos que também optou por usar a mesma “tarja preta” que eu: – a arte como forma de entender e aceitar o que a vida nos dá e que venha o que vier, estaremos prontos.

O quadro da Léa era um jarro com girassóis. Nada de mais, já vi tantos. Mas, meus olhos se fixaram nele dentre tantos outros quadros belíssimos que forram as paredes da “sala de terapia” ou aguardam nos cavaletes que seus criadores resolvam definitivamente gritar – Nasceu!

Pois, é já vi muitos girassóis pintados por lá, mas aqueles me fizeram exclamar: – lindos, posso tirar uma foto?

Holmes, acho que você tinha razão. Flores são um bom presságio. Saibamos, então aproveitá-lo.

Sou uma pessoa que sempre procura razão para as coisas. Não acredito em acasos, coincidências, nem em bruxas (mas que elas existem, existem!), mas também sou antagônico e já explico

Para mim tudo tem uma racionalidade por trás. Não é à toa, não sei se perceberam, minha “veneração” por Sherlock Holmes.

Eis aqui meu antagonismo: – afinal, presságios, têm racionalidade?

Não sei. Minha racionalidade antagônica não sabe responder.

Voltemos aos girassóis.

O que significa a palavra girassol?

Se não tivéssemos inventados as palavras, as coisas e os girassóis continuariam existindo independente de lhe darmos nomes diferentes e em línguas diferentes?

Não tenho dúvida que sim, mas já que temos o hábito de “dar nome aos bois”, então o que significa girassol?

Existem muitas lendas sobre eles. Prefiro ficar com a da mitologia grega.

É mais ou menos assim.

Clitia ou Clícia era uma ninfa que se apaixonou por Hélio, a representação divina do Sol.

Como todo apaixonado, a ninfa seguia o Sol no Céu desde a hora que ele surgia ao Leste até o Oeste quando ele se ia. Neste momento a apaixonada Clitia ou Clícia, como todas e todos apaixonada(o)s, abaixava a cabeça, ficava triste e chorava até que o Sol reaparece lá no Leste, expulsando a Lua que cumprira seu papel durante a madrugada embalando os sonhos de outra(o)s apaixonada(o)s.

A lenda grega foi comprovada pela ciência que descobriu que os girassóis fazem este movimento acompanhando o Sol todos os dias, mas ao chegarem a idade “adulta” param de fazê-lo e ficam estáticos até morrer.

Acabei de descobrir, com os girassóis, que ainda não cheguei a idade adulta porque ainda persigo o Sol de Leste a Oeste e morrer não está nos meus planos, nem presentes nem futuros.

Estou na envelhecência. Uma adolescência com moderação. O melhor momento da vida. A melhor hora de produzir sem pressa e ao mesmo tempo com muita pressa porque o tempo é inexorável com quem já dobrou o Cabo da Boa Esperança e precisa mostrar ao mundo a que veio.

Hora de dar gracias a la vida por nos ter dado tanto, como diz Violeta Parras na canção imortalizada por Mercedes Sosa, e deixar um legado que nos torne eternos, não pelo nosso corpo físico, mas de uma forma quântica, por nossas ideias e pensamentos.

De hoje em diante, o meu jardim da vida, terá girassóis ao lado de rosas. Eles buscando o Sol de Leste a Oeste e elas exalando o perfume que roubam da vida e seguem me ouvindo como as estrelas de Bilac.

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